sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Primeiro o ar depois a terra.


E agora?!
Bem, era mesmo hora de se perguntar... Agora que já estava indo, rumo a um caminho que nem sabia onde iria dar.
Ela (entre seus pensamentos mais intimistas) se via como uma folha louca num ar quente de verão, uma folha louca desprendida no mundo dos racionais, dos frios com seus sentimentos friamente calculados como contas no fim do mês.
Ela era assim: tele-guiada por seus sentidos, telepática a amores bem vindos, entregue a beleza de todo novo.
Porem, o passado forte que vivera com certa menina agora lhe impelia (em seus devaneios de folha) a olhar para traz e se questionar, sobre como andava o curso desta sua vida e se de fato queria ser apenas paixão, sem pensar no que levava suas atitudes e a dor que causava a ela seus amores. Tais pensamentos lhe nublavam a mente...
Apagou seu cigarro nervosamente! Essa mão que lhe puxava o olhar para traz era mesmo tão forte (as mãos da sua última amada) tão frágil, tão certa e tão acolhedora, tão cheia ao mesmo tempo de uma angustia presa, de um amor grande de mais para sua simplicidade de folha, pesado contra sua leveza de vento...
Seguiu para longe (numa fuga) como alguém que fosse lançado ao chão dos amores insustentáveis.
Neste instante (longe de casa) já não sabia mais relembrar estes sentimentos que vivera. Assustava-se ao perceber que seu vento bem vindo agora lhe causava arrepios e redemoinhos, que esse vento que lhe alçava vôos outrora, hoje lhe faltava seco e lhe mostrava no chão o cheiro da terra crua.
Beijos ardidos como brasas de vulcões adormecidos ressurgiam para ferirem sua boca em noites de verão, não só a antiga amada, mas todos seus amores lhe apareciam feito alucinações em brasas e açoites.
Voltar? Como voltar? Isso seria trair sua identidade de folha! Folhas não voltam, elas só Vão... Vão assim sem saber, mas ela sabia, não tinha como negar, ela sabia com seus poros a implorar afagos passados, com sua saudade... Ai... A saudade dando peso a toda vida “antiga” presa nela, pesando seus lampejos de folha, rasgando-se dentro dela fazendo-a pensar em todo descaso no amor dela mesma... Olhou-se fundo num mergulho vertiginoso dentro de si, quem era ela de fato? Quem era se estava perdendo essa leveza de só se deixar e ir?! Foi então que num susto entendeu que não era mais folha, não ela não era mais uma folha, sem questões e só sentimentos! Ela havia se tornado uma árvore, uma arvore cheia de marcas do tempo, com nós dolorosos nos galhos, com seivas cheirosas a romper seu peito, e ninhos de pássaros amados a voar de seus cabelos.
Aceitou em si essa mudança, pois para ter-se feito árvore foi necessário ser antes folha, não havia errado, era mesmo tudo um processo silencioso do tempo que é Deus das coisas do mundo.
Amou-se sendo árvore, enfrentou dores de tronco erguido, molhou seus pés com lágrimas e chuva, feriu a terra com seus sentidos, era já uma bela árvore...
Teve frutos, teve folhas, teve vento e se se ergueu toda maravilhada ao sol que se abria.

2 comentários:

  1. "se via como uma folha louca num ar quente de verão, uma folha louca desprendida no mundo dos racionais, dos frios com seus sentimentos friamente calculados"

    Que lindo Prima!
    Vou acompanhar bem de pertinho o teu blog e as coisas lindas e inspiradoras que tu escreve!

    Um beijão

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  2. "Foi então que num susto entendeu que não era mais folha, não ela não era mais uma folha, sem questões e só sentimentos! Ela havia se tornado uma árvore, uma arvore cheia de marcas do tempo, com nós dolorosos nos galhos"
    mesmo com nós dolorosos nos galhos, as árvores continuam durante anos resistindo todas as forças do tempo, e tudo o que o mesmo trás, aja como tal. Assim eu espero.
    muito lindo.

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