sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Medo de amar



É sempre rápido descer quando toco o céu
Esconder meu mundo mágico num pedaço de papel

Ai que dor do teu sorriso que me antecipa um naufrágio!

Ó mar de perigos é teu corpo meu amor
Quando mais eu te preciso mais encontra-me a dor
Quanto mais teu me sinto...
Eu não me quero... Eu não me quero teu.
Pois se agora estou no abismo...
Foi só por que toquei o céu.

Saio


Saio

Saio de mim
Feito um menino aflito
Sem ter ar, nem grito...

Saio...
Gemo pelo corredor

Se a noite me sufoca
Espero para amanhecer

Saio...
Ainda corpo mesmo quando caminho
Ainda corpo mesmo quando me aninho
No teu corpo de cobertor


Minha predileta poesia




Tenho por ti inestimável valor
Que dinheiro todo do mundo.
De nada me valeria

É rico como a lua no céu
Sensível como a brisa que antecede a ventania

Que por mais que a palavra quisesse
Tão mais no meu silencio eu diria...

Pois tu és feminina prece
De fogo, terra, água e ar.
Minha predileta poesia!

Então vem...
Mata-me em fim de desejos
Devora-me com tua insana língua

Que eu me entrego em ti
Mãe da beleza!
Ó filha única da alegria!

Carta a Rainha




Eu volto a aquele momento em que nossos olhos fixos nunca deixavam à guarda cair
Você era a Rainha eleita, mas eu era só uma menina.
Eu volto ao quarto e aos teus vestidos cor-de-rosa
Eu volto ao dia que sai de casa e que você chorou em silencio
Mas você sabe... Tive que partir
Você era Dona, eu ali era só uma convidada.
Não poderia vencer nos teus domínios
E fui...
Meus caminhos foram sem trégua longe de casa
Achei tantos que me desafiaram sem nenhuma lealdade
Matei amores lindos e calei corações dispostos
Sempre atenta... Sempre armada!
Venci!
Se é que se pode chamar de vitória o que trago
A final, fiz do meu corpo essa armadura intransponível.
E sofri não sabendo amar e não tendo casa
Tudo para calar dentro de mim o maior inimigo
O medo do fim
Ardi em outros minhas feridas
Revivendo sempre nossa antiga batalha pelos poderes e domínios dos caminhos a seguir
Venci mas hoje preciso saber perder-me
Por que nem tudo é guerra.
Tento esquecer...
O quarto, a voz, o abandono.
Tento também viver sem tua força e a segurança dos teus braços firmes...
Faz-me falta!!
Sabes bem te amei antes de tudo como uma desesperada...
E que a saudade me vence desde que te foste.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Oração do poeta




Que nunca deixe de ver a beleza.
Mesmo nas putas mais tristes e nos olhares mais submersos.
Que eu veja a beleza ardente do mundo mesmo que eu não tenha como voltar.
Que eu não ignore a dor em nome de status algum, dinheiro ou desejos vulgares.
Que eu nunca me veja seguindo a manada rumo a caminhos que não são meus
Que eu encare a dor dos meus caminhos, sem fugas e com peito bem aberto.
Nem que eu enlouqueça e fique tristíssimo...
Nem que perca as mulheres, os prazeres, os amigos...
Que eu não deixe de crer na beleza que ainda existe!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Primeiro o ar depois a terra.


E agora?!
Bem, era mesmo hora de se perguntar... Agora que já estava indo, rumo a um caminho que nem sabia onde iria dar.
Ela (entre seus pensamentos mais intimistas) se via como uma folha louca num ar quente de verão, uma folha louca desprendida no mundo dos racionais, dos frios com seus sentimentos friamente calculados como contas no fim do mês.
Ela era assim: tele-guiada por seus sentidos, telepática a amores bem vindos, entregue a beleza de todo novo.
Porem, o passado forte que vivera com certa menina agora lhe impelia (em seus devaneios de folha) a olhar para traz e se questionar, sobre como andava o curso desta sua vida e se de fato queria ser apenas paixão, sem pensar no que levava suas atitudes e a dor que causava a ela seus amores. Tais pensamentos lhe nublavam a mente...
Apagou seu cigarro nervosamente! Essa mão que lhe puxava o olhar para traz era mesmo tão forte (as mãos da sua última amada) tão frágil, tão certa e tão acolhedora, tão cheia ao mesmo tempo de uma angustia presa, de um amor grande de mais para sua simplicidade de folha, pesado contra sua leveza de vento...
Seguiu para longe (numa fuga) como alguém que fosse lançado ao chão dos amores insustentáveis.
Neste instante (longe de casa) já não sabia mais relembrar estes sentimentos que vivera. Assustava-se ao perceber que seu vento bem vindo agora lhe causava arrepios e redemoinhos, que esse vento que lhe alçava vôos outrora, hoje lhe faltava seco e lhe mostrava no chão o cheiro da terra crua.
Beijos ardidos como brasas de vulcões adormecidos ressurgiam para ferirem sua boca em noites de verão, não só a antiga amada, mas todos seus amores lhe apareciam feito alucinações em brasas e açoites.
Voltar? Como voltar? Isso seria trair sua identidade de folha! Folhas não voltam, elas só Vão... Vão assim sem saber, mas ela sabia, não tinha como negar, ela sabia com seus poros a implorar afagos passados, com sua saudade... Ai... A saudade dando peso a toda vida “antiga” presa nela, pesando seus lampejos de folha, rasgando-se dentro dela fazendo-a pensar em todo descaso no amor dela mesma... Olhou-se fundo num mergulho vertiginoso dentro de si, quem era ela de fato? Quem era se estava perdendo essa leveza de só se deixar e ir?! Foi então que num susto entendeu que não era mais folha, não ela não era mais uma folha, sem questões e só sentimentos! Ela havia se tornado uma árvore, uma arvore cheia de marcas do tempo, com nós dolorosos nos galhos, com seivas cheirosas a romper seu peito, e ninhos de pássaros amados a voar de seus cabelos.
Aceitou em si essa mudança, pois para ter-se feito árvore foi necessário ser antes folha, não havia errado, era mesmo tudo um processo silencioso do tempo que é Deus das coisas do mundo.
Amou-se sendo árvore, enfrentou dores de tronco erguido, molhou seus pés com lágrimas e chuva, feriu a terra com seus sentidos, era já uma bela árvore...
Teve frutos, teve folhas, teve vento e se se ergueu toda maravilhada ao sol que se abria.